quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 8)

Estou só.
Mais uma vez como de costume.
Mais uma vez como de costume ninguém me percebe aqui.

As árvores não tem mais folhas, estão secas e retorcidas, estão como se amputadas.

Me sinto obscuro.
Não quero mais ficar aqui.
Resolvo sair sem ser visto.
Andar pela estrada cheia de folhas esvoaçastes.
O vento é frio.

Sigo em direção a uma torre, que imagino ser alguma igreja velha, mas ela parece estar extremamente longe. Não me importo e sigo.
No meio do caminho me deparo com ruínas de casas. Ruínas de espaços perdidos pelo fogo, ou por alguma guerra ou espaços simplesmente abandonados...

Dentro destas faíscas de um provável lugar onde pretendo estar, encontro uma casa com vidros quebrados.
Decido entrar para me esconder do frio.

Pulo um janela e me corto em um caco de vidro. A dor é forte mas me sinto bem. Sinto que ainda estou vivo.

Dentro da velha casa encontro um armário antigo meio “entortecido”, algumas camas espalhadas, e uma camisola de renda. A camisola me chama a atenção, está posta em cima de uma cama de uma maneira cuidadosa, como se estivesse esperando sua dona.

Olho e fico admirando aquela geometria.

Lembro de alguma coisa de minha infância. Nada claro...
Nada claro...
Tudo branco na minha cabeça.

Pausa.

Neste momento eu tento me levantar porque percebo que estou caído no chão.
Neste momento ele pretende se levantar porque percebe que está caído no chão.

Neste momento sua dor é grave e ele grita para dentro.
Neste momento ele está só, e só há vestígios.
Um gato aparece e lambe seu corte causado pelo vidro da janela.
A língua é áspera.
A língua me dói.

Pausa.



(continua...)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Olhar de Sal, Olhar de Neve















Olhar.

Através do sal.

Permitir a modificação natural
E a modificação imposta.

Usufruir da transformação quimica e física e reentender o presente que resurge, projetado e reprojetado em reflexos modificados.

Como uma pintura
Que é sem ser.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CORROSIVO + ERBA

Nos dias 13, 14, 15 e 16 de dezembro desenvolvemos na École de Beaux-Artes de Besançon (ERBA) um workshop de intervenção urbana.
Abaixo, alguns registros do encontro.

Les 13, 14, 15 et 16 décembre, nous avons mis au point un atelier d’intervention urbaine à l’École de beaux-arts de Besançon (ERBA).
Ci-dessous, quelques enregistrements.















quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 7)

Parte 7

Hoje ela passou por aqui. Estava linda e nua. Seu corpo brilhava alguma substância que eu não compreendia. Ela passou e eu resolvi seguir.
Me escondi por entre árvores e arbustos. Me escondi por entre os musgos e contra luz do sol.
Ela segurava seu cesto, colocava-o no chão, e se deitava na terra molhada. Os gatos começaram a lamber seu corpo. Lambiam de cima abaixo. Ela ria de prazer e enfiava as mãos e os pés na terra. Gritava como se gozasse.
Eu queria correr atrás dela e me enfiar em suas coxas. Queria mergulhar minha cabeça por entre aquelas pernas sadias e fazê-la gritar.
Eu queria tanta coisa, mas apenas observava a cena e os gatos a se aproveitarem daquilo que eu sequer tomei a atitude de começar a fazer.

Outra musa aparece vestida em rendas e passa um óleo sobre seu corpo. Em seguida joga uma espécie de pó que brilha. A musa nua grita, e já não sei mais se é de dor ou prazer.

Os gatos saem de perto e a deixam só.
Eu estou só atrás das moitas, mas me sinto vigiado.

Não sei mais se sonho ou se mergulho em uma realidade distinta de toda realidade que já vivi.

Resolvo sair de perto e procurar uma outra maneira de me aproximar delas.

Tenho medo de ser visto porque parece uma cerimônia secreta e violenta.
Ao mesmo tempo me instiga participar, porque daqui de onde estou pior não poderia ficar. Tenho medo do meu destino, mas sinto que tenho que continuar seguindo.




(continua...)

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 6)

Parte 6

Hoje sonhei com as musas. Acho que foi sonho porque não quando abri os olhos eu estava sozinho.
No meu sonho elas vinham juntas, me jogavam no chão e começavam a tirar minha roupa. Eu não estendia muito bem, mas gostava.
Aí eu via a gata prenha passar por mim e me lamber com sua língua áspera. As musas começavam a jogar algo que parecia pequenas pedras em cima de mim, e eu me queimava.
Elas jogaram um óleo e mais alguma coisa áspera em meu corpo.
Eu gritava.

Uma das musas com o óleo passava a me acariciar.
Meu pau ficava duro. Mas doía. Doía muito.
Eu escutava um zumbido nos ouvidos, um zumbido que não se cessava nunca.
A gata prenha me lambia de novo, e depois uma sensação de soterramento me veio sem imagem alguma. Meu corpo ardia e eu me sentia soterrado. Afogado.
Lembro de fragmentos de uma musa com a boca ensangüentada rindo muito. Ela gargalhava, neuroerótica.

A neuroerosis. 





(continua...)


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sons azuis e cinzas, ao dal-tônico


depois de algumas horas observando o nada, resolvi enfrentá-lo.

sim, tive que me proteger. afinal, quão grande foi aquela visão!
afundei minhas mãos no escuro.
e, em meus olhos, um som amarelo-esbranquiçado zunia forte, muito forte.

numa bifurcação, encontrei um guardião alado.
ele pendia para o leste, me dizendo que a direção não era correta.

finalmente encontrei um portal.
de longe, o fogo iluminava o chão
e as paredes laterais daquele gigante corredor se fechavam em forma de espada.

era o fim da linha.

mas aquele olho,
aquele olho que se partia, me observava por entre os galhos.
era um intenso e muito grave branco
amarelado
aquele esbranquiçado.

trocamos pupilas.

e, na esquina daquela floresta, coloquei meus fones.

me teletransportei.

Sons azuis e cinzas



A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem
usando borboletas

(Manoel de Barros)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Inanimados (Inanimé)

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 5)

Parte 5

Um pássaro negro me observa.
Ou talvez eu observe ele.

Não sei, não tem jeito. Não tem saída.
Nada. Quanto tempo mesmo passei aqui?
Será que não é o momento de ir?

Elas não apareceram ainda. Tenho frio. Nem gato, nem sapo e nem cachorro pra contar história. Só as folhas que voam. Loucas.
Esse vento poderia me levar. Me levar sem fim.
Me levar até não sobrar nada.




(continua...)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Desimages ou quand elle s'en sors dans la rue vêtu de nue.

Elle m'appelle et dit:

Thaïs, je vais sortir comment la muse, tu me suis ?

- Bien sûr.
  Tu vas nue et en dentelle?


Pause...

Nous sommes allés au marché pour le shopping. Elle avec leur dentelle et moi avec mon manteau rouge.

Nous avons nous filmé.
Nous avons parlé avec le boucher végétarien.


Les enfants ont pleuré de peur. Certains ont trouvé cela étrange.

La prochaine fois, elle va acheter du sel, je dis…

desimagens ou do momento em que se sai na rua vestida de nua.

Ela me liga e diz
Thais, vou sair de musa, você me acompanha?

- Claro.
  Nua e de renda?

Pausa.

Saímos ao mercado para fazer compras.
Ela com suas rendas e eu com meu casaco vermelho.

Nos filmamos.

Nós conversamos com o açogueiro vegetariano.

As crianças saíram chorando e com medo.
Algumas pessoas acharam estranho.

Na próxima vez ela comprará sal, digo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 4)

Parte 4

Estou sem inspiração para continuar e as maçãs apodrecem aos poucos.
Ah, sim. Não havia falado das maçãs ainda. Aqui, uma macieira me faz companhia. As vezes sinto que coisas caem em minha cabeça. Ontem mesmo caiu uma maçã talvez por isso em algum momento eu apaguei.
Enfim, aqui elas têm caído facilmente, provavelmente a época do ano.

Enfim... sem inspiração.
Sinto que se eu ficar neste banco por muito tempo serei bombardeado por maçãs... ou por merda de pomba. Odeio as pombas. Já disso isso? Provável. Sempre digo isso... Uma vez uma pomba velha e feia veio se sentar ao meu lado numa tempestade de vento frio. Ela me olhava com olhos singelos. Acho que foi a primeira vez que não odiei pombas. Ficamos ali cúmplices durante horas, até que a tempestade passou, e ela se foi andando meio manca. Nos respeitamos. Mas em geral eu as odeio, não sei bem porque, talvez porque sejam muitas e vivem fazendo merda na cabeça dos outros, ou talvez porque disputam como loucas a comida, ou porque vêm de enxeridas comerem a nossa.


O vento passa cortante por aqui.
As folhas têm voado como nunca e as maçãs têm caído mais que o normal. Elas ainda estão boas.

Como para passar o tempo.
As maçãs.


Mais uma.


Hoje estou a ponto de ir. Hoje resolvi que vou seguir as musas e seus gatos. Ainda não descobri o que se passou ontem quando escutei o grito de mulher. O fato é que desde então não tenho visto nem musas e nem gatos.
Justo hoje que decidi ir atrás deles.


Ao longe escuto um barulho do trem que me fez chegar até aqui. Que horas são agora, me pergunto...

O tempo passa e eu continuo sem inspiração para continuar. Me sinto sozinho pela primeira vez, e o vento me assombra um pouco.
As musas não passaram até agora e isso não é comum.
Hoje me pergunto, se ninguém nunca se perguntou do por quê eu as chamo de musas. Não sei, mas hoje eu me pergunto porque cargas d’água? As vezes as palavras me vêm na boca e eu não consigo mais tirá-las de mim. Enfim, começou assim e ficou assim. Sem muitos questionamentos agora.

Parei.

A continuação não flui. Espero que ao menos um gato apareça.

hoje



...

talvez o aquecedor do meu quarto, ligado na potencia máxima, me faça entrar em contato com a =bem-vinda= exaustão e permite, assim, que meu corpo amoleça e fique disforme.

Pego um pacote de bolachas sabor gotas de chocolate e começo a experimentar reflexos nas janelas da casa, em cada comodo há sempre duas. Vou me filmando ate que a câmera não seja refletida também. Chego a me cansar e sento na cama. O sol entra por uma das janelas e bate nas minhas pernas. Queima. Acho estranho. Como estou com um vestido de renda branca a luz causa nele umas sombras interessantes. Filmo isso também. Renda, pele e a pinta preta da minha coxa. Gosto da experiência. Assisto e fico na duvida se deleto ou não. Sem decidir, levanto e percebo que um homem me observa do estacionamento que da' para uma das janelas. Sou uma imagem fantasmagorica. Ele segue me olhando. Me escondo. Desço para fazer um café, o pó vem da Guatemala. Erro a medida de agua, ficara aguado. Lavo a louca e coloco uma pequena mexerica inteira na boca. Estouro devagar ate ficar completamente liquida. Levo a cadeira da cozinha para o quintal da casa, nela posiciono a câmera perto do arbusto. Fico só com a renda branca e não temo que alguém me observe. Me movimento e me junto às folhas. O vento combinado ao frio me fazem voltar à casa.


...

domingo, 6 de dezembro de 2009

ainda sem título (parte 3)

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 .
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Escuto um miado como jamais havia escutado.
Ao olhar para trás a gata siamesa prenha está sentada e me olha com seus grandes olhos azuis.

De muito longe vejo uma das musas passarem com um vestido nas mãos.

Ouço uma voz feminina cantando uma cantiga de criança.

O ancião de bengala passa por mim, e hoje e parece não ter me visto.
Engraçado tudo isso... as pessoas aqui parecerem ser “de lua”. De vez em quando elas resolvem perceber que estou aqui.



MERDA!
MERDA LITERAL! Uma merda de passarinho, ou melhor, de pomba. Odeio estas pombas. Me limpar com o que agora? Achar água ou banheiro por aqui me parece complexo demais. Minto, água tem.
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Escuto um grito aflitivo de mulher de muito longe. Os gatos passam correndo. As musas passam correndo carregando o cesto. Escuto um barulho de porta ranger, mas não faço idéia de onde vem este barulho. Estou só novamente. Ninguém me percebe novamente.
Até quando isso vai durar?
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(continua...)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ainda sem título (parte 2)

Parte 2

Hoje faz um frio seco e o gato preto se lava.
As musas aparecem à minha frente nuas, e confesso sentir um certo tesão por elas. Elas brincam com os gatos e carregam um cesto, mas daqui de onde estou não posso ver o que carregam dentro dele. Frutas talvez, ou então flores de setembro.
Me atraem... sim, sinto que deveria segui-las, mas por fim fico aqui parado e tarado (uma rima para divertir o leitor) pela beleza do jogo entre as musas e os gatos.
Todos se vão e quando olho para trás a gata siamesa prenha está sentada me observando. Trocamos alguns olhares e ela sai para buscar comida.

Ás vezes sinto que sou visto sem ser percebido, ou seria o contrário, perceber sem ver... muitas vezes fico confuso com a construção das palavras idéias. Muitas vezes sinto que...
Na verdade o que eu sinto é uma tontura avassaladora neste momento preciso. Neste momento preciso eu preciso... (arghhh mais uma vez este jogo de palavras).
 TUM.

Preto... preto... preto...
                Nada...
Uns fragmentos... umas luzes à minha volta. Ouço pessoas que riem. Não sei, não posso ver. Estou com os olhos cerrados e não posso abri-los.
Nessas horas sinto que será assim... será porque ainda não é... sinto que partirei assim, num piscar de olhos, e TUM, então já não sei mais. Talvez uma musa possa aparecer para me fazer uma punheta, ou então...

Pausa. Dói demais pra continuar. A dor é forte agora. Sinto como se estivesse sendo sugado pela terra. Como se eu estivesse virando raiz... os meus braços, por exemplo, não têm movimento próprio. Minhas pernas formigam e meu fígado faz um esforço para tentar sair do meu corpo.

Grito.

Gritar é bom, principalmente se ninguém te escuta. Na verdade este era um momento para eu ser escutado, mas enfim, estou enraizado. Estou tomado pela dor e pela imobilidade.

Devo sentir algum prazer nisto tudo. A dor, as musas... sim as musas...
O melhor é pensar nelas e ver se essa dor passa.


Pausa.
Neste momento ele está caído no chão.
Pausa 2.
Neste momento nada pode ser descrito. Palavras faltam, imagens não cabem mais.
O que vemos é isso...
Ele estatelado tenta narrar sua “afrodisíaca” aflição.
O vento cessa. As plantas cobrem-no.
Pausa 3.

Respiro. Respiro para dentro, isto é, inspiro. Inspiro o vazio do meu corpo. O corpo oco que dói sem avisar. Dói sem fazer barulho. Alguns corvos cantam no meu ouvido. Vieram me ninar talvez...


Tento me levantar com mais esforço desta vez... tento desenraizar.
Desenraizei as mãos... consigo tirar meu tronco do chão e agora já estou de pé.











Continua...