quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ainda sem título, mas já esboçando algum (Parte 4)

Parte 4

Estou sem inspiração para continuar e as maçãs apodrecem aos poucos.
Ah, sim. Não havia falado das maçãs ainda. Aqui, uma macieira me faz companhia. As vezes sinto que coisas caem em minha cabeça. Ontem mesmo caiu uma maçã talvez por isso em algum momento eu apaguei.
Enfim, aqui elas têm caído facilmente, provavelmente a época do ano.

Enfim... sem inspiração.
Sinto que se eu ficar neste banco por muito tempo serei bombardeado por maçãs... ou por merda de pomba. Odeio as pombas. Já disso isso? Provável. Sempre digo isso... Uma vez uma pomba velha e feia veio se sentar ao meu lado numa tempestade de vento frio. Ela me olhava com olhos singelos. Acho que foi a primeira vez que não odiei pombas. Ficamos ali cúmplices durante horas, até que a tempestade passou, e ela se foi andando meio manca. Nos respeitamos. Mas em geral eu as odeio, não sei bem porque, talvez porque sejam muitas e vivem fazendo merda na cabeça dos outros, ou talvez porque disputam como loucas a comida, ou porque vêm de enxeridas comerem a nossa.


O vento passa cortante por aqui.
As folhas têm voado como nunca e as maçãs têm caído mais que o normal. Elas ainda estão boas.

Como para passar o tempo.
As maçãs.


Mais uma.


Hoje estou a ponto de ir. Hoje resolvi que vou seguir as musas e seus gatos. Ainda não descobri o que se passou ontem quando escutei o grito de mulher. O fato é que desde então não tenho visto nem musas e nem gatos.
Justo hoje que decidi ir atrás deles.


Ao longe escuto um barulho do trem que me fez chegar até aqui. Que horas são agora, me pergunto...

O tempo passa e eu continuo sem inspiração para continuar. Me sinto sozinho pela primeira vez, e o vento me assombra um pouco.
As musas não passaram até agora e isso não é comum.
Hoje me pergunto, se ninguém nunca se perguntou do por quê eu as chamo de musas. Não sei, mas hoje eu me pergunto porque cargas d’água? As vezes as palavras me vêm na boca e eu não consigo mais tirá-las de mim. Enfim, começou assim e ficou assim. Sem muitos questionamentos agora.

Parei.

A continuação não flui. Espero que ao menos um gato apareça.

hoje



...

talvez o aquecedor do meu quarto, ligado na potencia máxima, me faça entrar em contato com a =bem-vinda= exaustão e permite, assim, que meu corpo amoleça e fique disforme.

Pego um pacote de bolachas sabor gotas de chocolate e começo a experimentar reflexos nas janelas da casa, em cada comodo há sempre duas. Vou me filmando ate que a câmera não seja refletida também. Chego a me cansar e sento na cama. O sol entra por uma das janelas e bate nas minhas pernas. Queima. Acho estranho. Como estou com um vestido de renda branca a luz causa nele umas sombras interessantes. Filmo isso também. Renda, pele e a pinta preta da minha coxa. Gosto da experiência. Assisto e fico na duvida se deleto ou não. Sem decidir, levanto e percebo que um homem me observa do estacionamento que da' para uma das janelas. Sou uma imagem fantasmagorica. Ele segue me olhando. Me escondo. Desço para fazer um café, o pó vem da Guatemala. Erro a medida de agua, ficara aguado. Lavo a louca e coloco uma pequena mexerica inteira na boca. Estouro devagar ate ficar completamente liquida. Levo a cadeira da cozinha para o quintal da casa, nela posiciono a câmera perto do arbusto. Fico só com a renda branca e não temo que alguém me observe. Me movimento e me junto às folhas. O vento combinado ao frio me fazem voltar à casa.


...